sábado, 6 de agosto de 2011

UM POVO CHAMADO ABC

A frase do mestre Câmara Cascudo, intitula este GP para conclamar a frasqueira para reconduzir o ABC ao G4. Depende apenas de nós mesmos. O passaporte é a vitória esta noite.

Volto ao mestre CASCUDO para reproduzir abaixo, trechos do discurso do senador Paulo Davim (Conselheiro do ABC),  proferido no senado Federal na última 4a. feira.
                                                             
"Quando requeri esta Sessão Solene tive a convicção de estar propondo uma homenagem extremamente justa, e extremamente oportuna. A estatura do grande potiguar e brasileiro, sua brilhante trajetória de vida e sua enorme contribuição à cultura de nosso País justificam plenamente a homenagem.


Falar sobre Luis da Câmara Cascudo é para mim um misto de honra, orgulho e até de ousadia. Honra porque não resta dúvidas de que Câmara Cascudo não só fez parte daqueles que se notabilazaram pelos seus grandes feitos. Mas, sobretudo, porque ele foi responsável por notabilizar a pesquisa brasileira, os estudos etnográficos, nossos costumes, nossa cultura, dando equânime valor aos grandes homens que com ele conviveram – aprendendo e ensinando – assim como também valorizando e mostrando ao mundo os gestos mais simples e cotidiano dos homens do chão de terra seca do nosso nordeste.

Orgulho - pela unanimidade do reconhecimento do valor deste homem e da sua vasta obra.

Ousadia - porque diante de tão grandiosa obra e legado deixados por ele, qualquer tentativa de resumir em poucos minutos o que ele representou na história cultural brasileira, pode soar rasteiro, cérceo de todo o merecimento que lhe é de direito.

Luís da Câmara Cascudo nasceu em 30 de dezembro de 1898 na nossa Natal – a cidade que encantou o sol, sem com ele desposar, daí carinhosamente ser chamada de “Noiva do Sol” ou “Cidade do Sol”. Cascudo desde cedo demonstrou uma invulgar curiosidade intelectual.

Estudou no Atheneu Norte-Riograndense, a mais antiga e tradicional instituição escolar do País, fundada em fevereiro de 1834 e anterior, portanto, ao aclamado Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. O mesmo Atheneu do qual, anos mais tarde, viria a ser professor e diretor.

Concluída a formação básica, sua alma buliçosa aventurou-se pelos mais variados campos do conhecimento humano. Pensou em ser Médico e chegou a cursar alguns anos de Medicina em Salvador e no Rio de Janeiro. Em 1928, concluiu o curso de Direito na velha Faculdade do Recife e o curso de Etnografia na Faculdade de Filosofia da terra natal. À nossa veneranda Universidade do Rio Grande do Norte, por sinal, também voltaria depois como professor de Direito Internacional Público e de Etnografia Geral.

Jornalista dos mais inspirados e atuantes, colaborou em vários periódicos de Natal e de outras cidades do Brasil. Manteve ao longo de décadas uma coluna diária, por meio da qual lançava um olhar arguto e sensível à paisagem humana de sua cidade. Historiador atento e perspicaz, escreveu, por exemplo, as biografias de Solano López, do Conde d’Eu e do Marquês de Olinda. E o amor incondicional por sua terra levou-o a escrever a História da Cidade do Natal e a História do Rio Grande do Norte. Mas foi com o livro “ Alma Patrícia” em 1921- há 90 anos - que estreou como escritor.

Nesse mesmo período fundou a Sociedade Brasileira de Folclore propondo uma nova teoria para a cultura popular. Mantinha contatos freqüentes com grandes nomes como Carlos Drumond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Gilberto Freire, entre outros.

O geógrafo talentoso se fez notar em Geografia do Brasil Holandês; o ensaísta, em Jangada e em Rede de dormir; e o ficcionista, em Histórias que o tempo leva.


Acima de tudo, porém – e é nesse campo que seu vigor intelectual se mostrará mais intenso, mais destacado e, seguramente, imprescindível –, Luís da Câmara Cascudo escreveu sobre Etnografia e Folclore.

Instigava-o, Senhoras e Senhores Senadores, essa riqueza imensurável que vamos encontrar na cultura popular, nas tradições e nos costumes, nos modos de falar e vestir, nas lendas e nos mitos que resistem ao tempo, nas superstições, nos hábitos alimentares, nos folguedos, nos jogos infantis, nas práticas funerárias, em todo esse arcabouço, enfim, que traduz com muita propriedade os princípios e valores assumidos por um grupamento de seres humanos.

A esse tema, Senhor Presidente, entregou-se de corpo e alma. Dos mais de cem títulos, entre livros, traduções, opúsculos, e alguns milhares de artigos publicados no Brasil e em vários países, grande parte foi dedicada ao folclore nacional ou regional, somando oito mil e quinhentas páginas. Páginas que foram escritas, para alegria dos leitores, não com o ranço acadêmico dos pesquisadores insensíveis ao gosto popular, mas numa linguagem bastante acessível, ainda que sem prejuízo do rigor técnico.

Nesse conjunto, destacam-se várias obras-primas, cada uma delas capaz de embasar, por si só, a merecidíssima reputação de maior folclorista da História do Brasil.

“Cascudo viveu como um descobridor, vendo e ouvindo, lendo e perguntando, anotando e escrevendo, sem nunca pensar em deixar sua terra Natal, entre o rio e o mar”. Escreveu o Jornalista e escritor Vicente Serejo.

Por várias vezes declinou o convite para ensinar em Universidades da Europa, EUA e da América Latina e até ao honroso convite do então Presidente Juscelino Kubitschek para ser reitor da UnB. Também recusou o Fardão da Academia Brasileira de Letras.
Luis da Câmara Cascudo nasceu, viveu e morreu na sua aldeia. Genial e humilde. Pobre e feliz.

Esse, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, é o Câmara Cascudo, o grande brasileiro que hoje homenageamos. Ao exaltá-lo, ao destacar sua valiosíssima contribuição para a cultura do Brasil, aproveito para levar meu reconhecimento, também, a todos aqueles que se dedicam ao estudo do folclore em nosso País. É por conta de seu trabalho, de sua dedicação, de seu amor à profissão, que conseguimos manter viva uma cultura popular tão rica e tão diversificada.

































 

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